O Consumo e Sua Influéncia na Economia
Como entender se uma economia está acelerando ou desacelerando? Quais os indicadores que podem nos orientar nesse sentido? Uma das formas de podermos avaliar essa situação é justamente o consumo das famílias, que se refere fundamentalmente aos bens adquiridos para a satisfação das necessidades pessoais das famílias, por meio da compra de bens e serviços.
O consumo das famílias é um dos elementos que fazem parte por exemplo dos cálculos do PIB (Produto Interno Bruto) de um país. Quando as famílias estão gastando muito, a economia tende a aquecer. A fórmula abaixo, que conta com bastante consenso dentro da economia, avalia a formação do PIB por meio dos seguintes fatores
PIB = C (consumo das famílias) + I (investimentos privados, seja de empresários ou empresas) + G (gastos do governo) + [EX (exportações) – IMP (importação)]
Em suma: quando os consumidores estão gastando muito (comprando carros, eletrodomésticos, roupas, casas, saindo para jantar fora), isso exerce um impulso positivo na atividade econômica[1]. Quando o consumidor gasta, esse pode ser um indicativo de que a economia do país está se expandindo. A situação oposta, a saber, a contração de gastos dos agentes econômicos representa por sua vez um importante sinal de desaceleração econômica.
Outra coisa importante a se analisar em relação ao consumo é o ciclo de alavancagem, ou seja: quando os consumidores se encontram muito endividados (por conta da tomada de crédito em bancos ou pelo uso de cartão de crédito), eles tendem a reduzir gastos, afetando a economia como um todo. Já quando os consumidores estão pouco endividados, eles tendem a gastar mais e a se alavancar financeiramente. Outro fator importante a se levar em consideração é a percepção dos consumidores em relação à inflação e à situação econômica do país para os próximos meses ou anos, que pode acabar influenciando suas decisões sobre gastos, endividamento e poupança, o que também acaba surtindo um efeito na (macro)economia. Geralmente a confiança do consumidor é elevada quando a taxa de desemprego se encontra baixa e o PIB atravessa períodos de crescimento.
No calendário econômico da FBS https://fbs.com/analytics/calendar, os clientes podem encontrar importantes indicadores a respeito de consumo, como os seguintes:
- O suíço Consumer Confidence (Confiança do Consumidor), que aufere a situação económica e financeira das famílias suíças, levando em conta aspectos como: inflação, segurança no emprego, etc.
- O britânico BoE Consumer Credit (Crédito do Consumidor), que trata dos empréstimos tomados por indivíduos do Reino Unido para financiar despesas com bens e/ou serviços, excluindo-se os empréstimos estudantis.
Vemos que em vista do maior volume de empréstimos tomados por indivíduos do Reino Unido entre 31.10 (824 milhões de £) e 30.11 (1.079 bilhões £), demostrou-se um aquecimento da economia britânica, refletida na valorização do GBP frente ao USD.
- O americano Consumer Credit Change (Mudança de Crédito ao Consumidor) que se refere aos fluxos de crédito concedidos a pessoas físicas para despesas domésticas, familiares e pessoais, excluindo-se empréstimos garantidos por imóveis (hipotecados). Nos Estados Unidos, também existem o Michigan Consumer Expectations (Expectativas do Consumidor) e o Michigan Consumer Sentiment (Sentimento do Consumidor), que avaliam: como os consumidores veem sua situação financeira atual, assim como as perspectivas para a economia do país no curto e no longo prazos. Não obstante, também há o Consumer Inflation Expectations (Expectativas de Inflação ao Consumidor), que mede as expectativas de inflação das famílias para o próximo ano.
Vemos que em vista do maior volume nos fluxos de injeção de crédito para indivíduos e famílias nos Estados Unidos demonstrados pelo índices Consumer Credit Change entre 30.11.2020 (10.71 bilhões de USD) e 30.06.2021 (38.19 bilhões de USD), demostrou-se um aquecimento da economia americana, refletida na valorização do USD frente ao JPY (iêne japonês) por exemplo.
- O australiano Westpac Consumer Confidence Change (Mudança da Confiança do Consumidor) e o Westpac Consumer Confidence Index (Indíce de Confiança do Consumidor), refletindo as avaliações dos consumidores sobre a situação financeira de suas famílias no ano anterior e para o ano seguinte, baseado em percepções sobre as condições econômicas previstas no futuro e sobre os próximos cinco anos. A Austrália também possui o Consumer Inflation Expectation (Expectativa de Inflação ao Consumidor), que mede as expectativas dos consumidores para o crescimento dos preços (inflação) nos próximos 12 meses.
Vemos que em vista da melhora dos indicadores do Westpac Consumer Confidence Index entre 31.03.21 (111.8 pontos) e 30.04.21 (118.8 pontos), demostrou-se uma percepção de aquecimento da economia australiana, refletida na valorização do AUD frente ao USD.
- O japonês GDP Private Consumption QoQ Prel (Consumo Privado PIB), que avalia a despesa de consumo final das famílias japonesas frente às estimativas do lado da oferta.
- A Europa, por sua vez, possui o Consumer Confidence Flash (Índice de Confiança do Consumidor), que mede o nível de otimismo dos consumidores europeus sobre a economia, baseado em questões que envolvem: a situação económica e financeira atual, perspectivas de poupança, bem como a expectativa das famílias quanto a: índices (futuros) de preços ao consumidor, condição (macro)económica geral e etc...
Outros países (a exemplo de México e Turquia por exemplo) também possuem índices próprios sobre Consumo e Gastos das Famílias, que podem fornecer ao trader interessante indicativo quanto à situação econômica de seu país de interesse, promovendo importante fator para sua tomada de decisão no mercado financeiro.
[1] Entretanto, vale lembrar que: gastos com consumo excessivo em importações podem ser um problema para o país, uma vez que aumenta a dependência dos importadores de dólares, assim como afeta de forma negativa a relação Exportação – Importação, uma das componentes do PIB.