TRANSAÇÕES CORRENTES E O CÂMBIO
O que um investidor deve observar para saber se deve comprar ou vender dólares? Primeiramente, ele deve entender se está faltando ou sobrando dólares no país. Para isso, é preciso entender que: diariamente várias transações de contratos de câmbio são fechadas na economia, a partir de operações de exportação, importação, remessas de dinheiro, turismo, investimento externo, compra de títulos públicos, derivativos, enfim. Existe um fluxo enorme de divisas (moeda estrangeira) que entram e saem do país a todo o momento e tudo isso é registrado no Balanço de Pagamentos. Divide-se o Balanço de Pagamentos tradicionalmente em: Transações Correntes e Conta Financeira. As Transações Correntes registram operações mais lentas envolvendo a Balança Comercial (registro das exportações – importações num determinado período), Balança de Serviços (que registra todos os pagamentos de serviços feitos entre residentes e não-residentes de um país) e o Balança de Rendas. A Conta Financeira registra as operações mais voláteis (investimento direto, empréstimos e amortizações de empresas, aplicações em carteira envolvendo: portfólios, bolsa, títulos públicos e privados, etc...) influenciando o câmbio no curtíssimo prazo, e, portanto, mais apropriada para investidores que trabalham com daytrade.
No caso do Brasil, a Balança Comercial é historicamente superavitária, ou seja, sobram dólares no país do ponto de vista comercial. O Brasil é muito rico em commodities, possuindo vantagem relativa nesse segmento. O Balanço de Rendas primária, por sua vez, é historicamente deficitário no Brasil. Ele tem relação sobretudo (mas não unicamente) com a remessa de lucros que as multinacionais fazem ao exterior e são um importante indicador quanto à forma de inserção internacional do Brasil no plano econômico. Com efeito, há muito mais empresas estrangeiras operando em território nacional do que o contrário. Logo, o Brasil envia muito mais renda ao exterior na forma de lucro dessas multinacionais do que recebe de suas empresas nacionais instaladas no exterior. Também está embutido na Balança de Renda primária o pagamento de juros da dívida externa, especialmente de dívida privada, ou seja, contraída por entes e empresas privadas e não propriamente pelo governo.
Muitas vezes a Balança Comercial brasileira equilibra os déficits na Balança de Serviços (também historicamente deficitária) e da Balança de Rendas. Com isso, o país fica com a sua situação em Transações Correntes mais equilibrada. Em 2014, no entanto, muito por conta da crise política, a conta corrente brasileira apresentou um déficit de mais de 100 bilhões de dólares e em 2015 de mais de 50 bilhões. Mas enfim, o que isso tudo quer dizer para o investidor? Bem, depende. Se o investidor tem intenção de operar em daytrade é interessante observar o resultado da Conta Financeira. Já caso ele tenha intenção de operar no longo prazo (swingtrade), é interessante observar as Transações Correntes de um país. Ora, quando as Transações Correntes estão muito deficitárias (ou seja, quando um país estiver numa posição fraca externamente), é recomendável comprar dólares (ou posicionar-se comprado na paridade USDBRL para o caso brasileiro). Por sua vez, quando a situação das Transações Correntes estiver zerada ou equilibrada é recomendável vender dólares (ou posicionar-se vendido na paridade USDBRL, novamente em se tratando de Brasil).
As Transações Correntes do Brasil de 2007 a 2022 (em milhões de US$), podem ser obtidos pelo site do Ipea. Para gráfico, ver:
Percebeu-se por exemplo, no período pré-pandemia, um movimento de desvalorização do dólar justamente entre janeiro de 2016 e março de 2017, quando o déficit em Transações Correntes nesse período diminuiu de -5.6 bilhões US$ para 186 milhões US$, ou seja, passou a sobrar dólares no país. Ver gráfico a seguir:
Na FBS, os clientes podem negociar o USDBRL nas contas Standard e Cent. Para mais informações, consulte o link.