Será que a economia dos EUA vai empurrar o mundo para uma recessão global?

Será que a economia dos EUA vai empurrar o mundo para uma recessão global?

2022-12-29 • Atualizado

A economia americana gerou cerca de meio milhão de empregos em março, enquanto o desemprego fechou em 3,6%. O índice Dow Jones está perto de suas máximas históricas. As famílias economizaram US$ 2,5 trilhões durante a pandemia e agora estão gastando esse montante, aquecendo a economia. Apesar de tanta notícia boa, em Wall Street a expectativa de uma recessão é bem alta. Deutsche Bank, Goldman Sachs e integrantes do Fed projetam que a economia dos EUA vai entrar em uma recessão nos próximos dois anos.

O que explica essas previsões negativas para a economia dos EUA?

1. A história se repete

O atual cenário econômico lembra os períodos pré-recessão na história do país. Nos últimos 75 anos, a economia americana entrou em recessão dentro de dois anos todas as vezes em que a inflação superou 4% e o desemprego ficou abaixo de 5%. Atualmente, a inflação no país se aproxima dos 8% e, em março, o desemprego caiu para 3,6%.

2. Inversão da curva de juros

A alta dos preços das commodities, a decisão do Fed de subir os juros e a guerra na Ucrânia levaram a um achatamento da curva de juros nas últimas semanas. Quando a curva se inverte, cresce o medo de uma recessão. A inversão da curva acontece quando os rendimentos de 2 anos do Tesouro superam os de 10 anos. Tal situação indica que os investidores não têm confiança na força da economia a longo prazo, preferindo apostar no curto prazo porque acreditam que a economia vai desacelerar.

A inversão da curva sinalizou cada recessão desde 1955, com apenas um caso de previsão equivocada. Como a recessão ocorre com a inversão da curva de juros em um prazo de 6–24 meses, todas as projeções de recessão apontam para um prazo até 2023.

3. A inflação alta vai engolir o dinheiro economizado

A inflação alta vai obrigar o consumidor a apertar tanto o orçamento que a economia vai ser jogada em uma recessão. Com a alta dos preços, a inflação vai engolir o dinheiro economizado pelas famílias e esfriar o consumo. Essa queda forçada no consumo vai esfriar ainda mais a demanda e o crescimento. O FMI rebaixou para 3,7% sua projeção para o crescimento econômico dos EUA neste ano.

4. Forte e rápido demais

O Federal Reserve começou negando a ameaça da inflação e demorou demais para reagir. Agora, seu forte ciclo contracionista pode levar economia dos EUA — e a economia global junto — a uma recessão.

A brusca transição do cenário de ultraexpansionismo e crédito barato, sem o cuidado com a inflação, para um cenário de contracionismo agressivo, alta dos juros e retirada de liquidez do mercado vai gerar um choque brutal na economia dos EUA. O Fed, que vai pisar no freio para combater a mais alta inflação em 40 anos, pode — sem perceber — desfazer a frágil retomada após a recessão causada pela covid-19 dois anos atrás.

5. Demanda maior que oferta e desaceleração do crescimento

A alta do consumo aquece a demanda por serviços, produtos, imóveis e automóveis. Contudo, devido à subida rápida da inflação, à alta dos preços do petróleo e à instabilidade global, as cadeias de abastecimento — já afetadas pela covid-19 — estão em um cenário pior ainda. Isso aumentou a distância entre demanda e oferta, levantando os preços cada vez mais.

O Fed deu início a uma série de aumentos de juros em março para conter a inflação e desacelerar o consumo. A expectativa é de que o órgão aumente os juros em cada uma de suas seis reuniões restantes em 2022, de forma a esfriar o consumo e ajustar a demanda à oferta. Um pouco menos de crescimento pode ajudar a diminuir a inflação, mas uma desaceleração intensa demais pode jogar a economia em uma recessão. Se essa recessão chegar aos EUA neste ano ou no ano que vem, provavelmente vai ser por causa das medidas agressivas do Fed de combate à inflação.

Os Estados Unidos podem até escapar da recessão, mas o caminho não será fácil. O Fed deve rebaixar a inflação enquanto mantém o desemprego baixo e o crescimento econômico estável. Será que o banco central americano vai dar conta do recado?

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